“A qualidade do vinho começa na vinha”. Esta é uma premissa muito comum entre as mais diversas vinícolas e enólogos mundo afora. Afinal, todo o cuidado e empenho no cultivo das uvas impactam diretamente a qualidade dos frutos, que, por sua vez, afetam o resultado final dos vinhos.

Além disso, existem alguns termos comuns no universo vitivinícola, como vinha, videira e vinhedo. Você sabe a diferença entre eles? Já ouviu falar sobre os tipos de vinha e quais as fases que ocorrem antes da colheita das frutas? Vamos explicar tudo isso, confira!

O que é vinha?

O conceito de vinha é super simples. Por definição, vinha remete ao conjunto de videiras plantadas em um terreno, como sítios, fazendas e vinícolas.

Esses conjuntos de videiras podem ou não ser da mesma espécie de uvas. Isso dependerá de condições como: o tipo de uva em questão, as características do solo, a quantidade de sol que aquela região recebe, entre outros fatores.

Qual a diferença entre vinha e videira?

Já sabemos que vinha é o conjunto de videiras, certo? Agora, a videira propriamente dita é a planta que dá origem às uvas, que posteriormente podem ser usadas para diferentes propósitos. Entre eles, a produção de vinhos, sucos, geleias, passas, ou até o consumo in natura

Ou seja, ao falar de videiras, estamos nos referindo à parreira, como exemplifica a imagem a seguir. É importante saber, também, que no vocabulário do mundo dos vinhos é muito comum o uso das palavras “videira” e “vinha” como sinônimos. 

Qual a diferença entre vinha e vinhedo?

Como comentamos antes, a vinha é o conjunto de videiras localizadas em um determinado território. 

O vinhedo, por sua vez, é o conjunto de vinhas. Ou seja, podemos entender como vinhedo uma área destinada para o cultivo e agrupamento de vinhas, que geralmente são organizadas em fileiras retas e paralelas.

Também é importante ter em mente que, assim como no caso que explicamos anteriormente, comumente as palavras “vinha” e “vinhedo” são utilizadas como sinônimos.

Mas, para facilitar a compreensão, temos uma dica. Imagine a vista panorâmica das terras de um produtor, onde estão concentrados os mais diversos tipos de vinhas e suas respectivas diversidades de castas. Isso é, na prática, o vinhedo, como demonstra a imagem a seguir.

Tipos de vinha

Parte da família Vitaceae, as videiras são plantas do gênero Vitis. Existem mais de 80 espécies de videiras que se desenvolveram mundo afora. Porém, apenas um número muito restrito é, de fato, relevante para a viticultura.

Atualmente, as espécies mais importantes são: Vitis vinifera (de origem euroasiática), Vitis labrusca, Vitis rupestris e Vitis riparia (nativas da América do Norte).

A Vitis vinifera é uma das espécies mais antigas, com evidências de seu cultivo em 6.000 a.C. Ela é a responsável por originar entre 5 e 10 mil variedades de uvas, como as famosas Malbec, Cabernet Sauvignon, Tempranillo, Merlot, Chardonnay, entre outras.

Estamos falando da espécie considerada a mais propícia para a elaboração de vinhos. Acontece que a Vitis Vinifera dá frutos com características ideais para a composição da bebida, como alta concentração de de cor, aromas, taninos e acidez. 

Enquanto isso, as cepas Vitis labrusca, Vitis rupestris e Vitis riparia dão vida ao que, no Brasil, conhecemos como Vinho de Mesa. 

Em outros países, elas raramente são utilizadas para a produção de vinhos. Também é importante ter em mente que na Europa, por exemplo, o uso de uvas americanas é proibido, salvo algumas exceções. 

Apesar disso, essas espécies têm um papel fundamental para o cultivo e a saúde das videiras Vitis Vinifera, que não são resistentes à praga filoxera. 

VOCÊ SABIA? A filoxera, inseto oriundo da América do Norte, foi responsável pela destruição massiva dos vinhedos da Europa no século XIX quando acidentalmente chegou ao continente. Já as videiras americanas, que evoluíram na presença da filoxera, são capazes de resistir aos malefícios que seriam causados à planta. 

Essa praga ataca principalmente as raízes das vinhas, além de suas folhas. Isso causa sérios danos à saúde das videiras, ocasionando até mesmo a morte da planta.

Esse inseto não pôde ser combatido com produtos químicos quando assolou as plantações europeias. Desta forma, a solução criada à época foi implantar a Vitis Vinifera em pés de videiras americanas ou híbridas. 

O resultado foi a união entre os tipos de vinhas, que contavam com a raiz da videira americana e o tronco da europeia. Isso proporcionou às plantas uma proteção eficaz contra a praga. Essa metodologia, conhecida como porta-enxertos, é utilizada até os dias de hoje.

Cultivo de vinha

O ciclo da vinha

Agora que você já conhece os termos mais usados no universo vitivinícola e os principais tipos de videira, vamos falar sobre o ciclo da vinha.

Antes de produzir os cachos de uvas, as videiras enfrentam diversos estágios, conhecidos como ciclo vegetativo da vinha. Esses processos se repetem regularmente a cada ano, e percorrem a seguinte ordem:

  • Brotação: acontece na primavera, ou seja, quando a temperatura costuma estar mais amena. É o momento em que a planta “desperta” da dormência que ocorreu durante o inverno por meio dos nutrientes que acumulou, marcando o início de uma nova fase vegetativa. No hemisfério norte, a brotação acontece entre os meses de março e abril, enquanto no hemisfério sul, de setembro a outubro; 
  • Crescimento: nesse período ocorre a evolução e crescimento dos ramos e folhas da videira. Os nutrientes e a umidade do solo são essenciais para que a etapa aconteça da maneira ideal. No hemisfério norte, essa fase ocorre de abril a maio, enquanto no hemisfério sul ela vai de outubro a novembro; 
  • Floração: é o período em que surgem pequenos cachos com flores minúsculas que serão polinizadas, e, posteriormente, convertidas em uvas. A floração acontece de maio a julho no hemisfério norte, e entre os meses de novembro e janeiro no hemisfério sul; 
  • Pintor (ou Veraison): enquanto os frutos ainda estão se desenvolvendo, os cachos são verdes e rígidos, independentemente de ser uma variedade tinta ou branca. O “pintor” é o ponto em que as uvas tintas passam a ganhar a coloração roxa, e as brancas ficam douradas e translúcidas, indicando o início da maturação. Essa etapa acontece durante o verão, especificamente entre os meses de julho a agosto no hemisfério norte, e de janeiro a fevereiro no hemisfério sul;
  • Maturação: é quando os frutos podem duplicar de tamanho, acumulando água e açúcar, ao passo em que perdem gradativamente o excesso de acidez. Compostos aromáticos e de sabor também se concentram nas uvas nessa fase, que ocorre de agosto a setembro no hemisfério norte, e de fevereiro a março no hemisfério sul;
  • Colheita: também chamada de vindima, é o estágio em que os cachos são retirados das videiras e levados ao processo de vinificação. Pode acontecer de maneira manual ou mecânica. O momento ideal da colheita varia de acordo com o tipo de uva em questão e suas respectivas necessidades, ou o estilo de vinho que o enólogo deseja produzir. A vindima acontece entre setembro e novembro no hemisfério norte, e de março a maio no hemisfério sul; 
  • Dormência: um tempo depois da colheita, durante o outono, as folhas da planta caem. Ainda nessa estação do ano, a videira começa a entrar em repouso vegetativo. Posteriormente, no inverno, acontece a dormência, onde a parreira deve acumular os nutrientes necessários para repetir o ciclo durante a próxima primavera. Esse período ocorre de novembro a março no hemisfério norte, e de maio a setembro no hemisfério sul. 

Lembrando que o hemisfério sul engloba a América Latina, África, Nova Zelândia e Austrália. Já o hemisfério norte, os Estados Unidos, Europa, Norte da África e Ásia.

Ilustração sobre o ciclo da vinha

Influências do clima

Observando o ciclo da vinha, é possível perceber que as mudanças climáticas do ambiente influenciam diretamente o comportamento e as fases da planta.

Alguns dos fatores que caracterizam o clima de uma determinada região e interferem no cultivo das uvas são:

  • Temperatura: decisiva para o ciclo vegetativo da videira. É influenciada por aspectos como a latitude e altitude da região ou dos vinhedos, a proximidade com fontes de água, direção das vinhas, entre outros;
  • Luz solar: fundamental para que a planta realize o processo de fotossíntese. É afetada por motivos similares à temperatura;
  • Água: garante a vitalidade da planta e dos frutos. Costuma ser obtida por meio das chuvas e, quando permitido, por irrigação das videiras.
Influências do clima no cultivo de vinha

Para exemplificar a relevância do clima para o cultivo das vinhas, podemos mencionar as regiões próximas do Equador. Nesses locais, as estações do ano não apresentam uma diferença significativa de temperatura entre o verão e o inverno, o que prejudica a hibernação da videira.

Por esse motivo, a maior parte das regiões vitivinícolas estão localizadas entre as latitudes  30 e 50º Norte e Sul.

Já no caso de territórios mais quentes e com muita luz solar, as uvas podem concentrar mais açúcares enquanto os ácidos evaporam com facilidade. Isso favorece a produção de vinhos mais encorpados e alcoólicos.

Enquanto isso, em lugares mais frios, as variedades brancas se destacam. Nessas condições climáticas, a acidez é preservada nos frutos com mais facilidade, o que é favorável para a produção de vinhos brancos.  

Além de tudo isso, um fator de grande influência são as chuvas. É muito importante que durante a colheita não chova excessivamente, porque isso causa a diluição dos compostos de sabores das uvas.

Também é importante ter em mente que todos esses fatores climáticos oscilam e ocorrem de diferentes maneiras e intensidades a cada ano. Dito isso, cada colheita e safra está sujeita a variações que impactam positiva ou negativamente a produção dos vinhos. 

Esses são alguns exemplos de como as mudanças climáticas podem afetar o cultivo de uvas e, consequentemente, a produção de vinhos. 

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