Oriunda da França, a Carménère é uma uva que se consagrou na América Latina, especialmente no Chile. Conhecida por originar vinhos tintos de corpo médio e aromas intensos, essa casta conquista cada vez mais adegas no Brasil e no mundo.

Neste artigo, vamos explicar o que você precisa saber para escolher o rótulo ideal para o seu paladar, além de sugestões de harmonização, curiosidades e mais. Vamos lá? 😄

Taça de vinho Carménère

O que é a uva Carménère?

Oriunda da espécie de videira chamada Vitis vinifera, a Carménère é uma uva tinta conhecida pela sua semelhança com a célebre Merlot.

De modo geral, os frutos de Carménère são medianos, possuem coloração azulada intensa, e casca relativamente fina. 

Além disso, quando jovens, as folhas das videiras de Carménère apresentam tonalidade avermelhada. Inclusive, acredita-se que a uva tenha ganhado o nome “Carménère” por este motivo, em alusão à cor carmim que a planta adquire durante seu ciclo de vida. Há quem defenda, também, que o nome tenha surgido por conta da tonalidade da casca da uva ao longo de seu desenvolvimento.

Cacho da uva Carménère

Origem da uva Carménère

A uva Carménère é de origem francesa, especificamente da região do Médoc, em Bordeaux

Durante o século XVIII, a casta foi relevante para produção de vinhos nessa região, especialmente em união com a uva Cabernet Franc. 

Isso aconteceu até o século XIX, quando na década de 1860 a praga filoxera acidentalmente chegou ao continente e devastou vinhedos por toda a Europa.

As vinhas de Carménère, que já são naturalmente suscetíveis à praga filoxera, não resistiram à infestação. Por esse motivo, ao longo de muitos anos, a uva foi dada como extinta.

Acontece que, antes da filoxera atacar os vinhedos europeus, algumas mudas da casta já haviam sido levadas para as Américas, especialmente para o Chile. O curioso é que, durante essa migração, a Carménère foi confundida com a uva Merlot.

Como já mencionamos antes, ambas são muito parecidas. A semelhança se dá tanto no formato e aparência das uvas quanto das folhas em algumas fases do ciclo de vida da vinha. 

Por isso, a Carménère foi cultivada e usada na produção de vinho durante muitos anos como se fosse a Merlot.

Somente em 1994 que esse erro foi descoberto. E então foi confirmado que algumas vinhas chilenas que a princípio eram caracterizadas como Merlot na verdade eram Carménère.

Essa revelação foi feita pelo ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot. Ele foi ao Chile para participar do Congresso Sul-Americano de Viticultura e Enologia em 24 de novembro de 1994. Ao visitar alguns vinhedos locais, percebeu que algumas das videiras identificadas como Merlot eram Carménère.

Posteriormente, testes de DNA comprovaram essa afirmação. A partir dessa descoberta, os produtores chilenos continuaram apostando na produção de vinhos Carménère. O primeiro rótulo varietal elaborado após essa situação foi lançado em 1996.

Por esses motivos, o Chile ficou conhecido como o país vinícola que salvou essa variedade da extinção. Essa história também foi incorporada ao apelo comercial dos vinhos.

Depois disso, a Carménère também retornou à sua terra natal. Apesar de não ser amplamente cultivada na França hoje em dia, ela ainda aparece em alguns vinhos, especialmente os de Bordeaux.

Além de eventualmente compor o célebre corte bordalês — um típico vinho regional da França —, a casta comumente é vista em blends no Velho Mundo. 

Lembrando que blend é a mistura de diferentes porções de vinho referentes a safras, uvas, extrações de prensa ou fases de maturação. 

Dito isso, é muito habitual encontrar vinhos que, além da Carménère, levam consigo a Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, entre outras uvas.  

Principais características da uva Carménère

Como comentamos no início do artigo, os frutos de Carménère são médios, têm cor intensa, e casca relativamente fina.

Tendo isso em mente, é preciso lembrar que, apesar dessas características, a personalidade dos vinhos Carménère dependem muito da região vinícola em que o rótulo será produzido.

De um modo geral, as características sensoriais que você encontrará ao degustar um Carménère são:

  • Acidez: média/alta
  • Tanino: médio
  • Fruta: média/alta
  • Corpo: médio
  • Álcool: médio/alto

Em se tratando do Velho Mundo, a Carménère não é amplamente cultivada. Na França, por exemplo, a casta aparece em blends elaborados em Bordeaux, em apelações como Médoc e Margaux.

Tais rótulos franceses geralmente apresentam estrutura sedosa, elegante, boa acidez, e frescor agradável em boca. No nariz, notas de frutas vermelhas e nuances de especiarias.

Além da França, a uva também aparece em algumas regiões vinícolas da Itália, como Friuli, por exemplo. Lá, os blends se mostram bem estruturados, com taninos firmes, além de aromas e sabores de frutas vermelhas e especiarias.

Porém, é no Chile que a Carménère fez morada. Em terras chilenas, a uva dá vida a vinhos elegantes, aveludados, sedosos e marcantes em boca. No nariz, o destaque são as notas intensas de frutas pretas maduras, como ameixas e cerejas, além de pimenta preta, pimentão, e toques herbáceos.

Mas afinal, você sabe o por que a Carménère se tornou a rainha do Chile? Confira a seguir.

Carménère: o vinho chileno por excelência

Assim como a ilustre Malbec, a Carménère é uma das uvas que encontrou na América Latina as condições ideais para se desenvolver. Dessa forma, origina algumas de suas melhores expressões, especialmente no Chile.

Isso acontece por conta das características das regiões vinícolas chilenas. Algumas delas são: 

  • A vasta quantidade de microclimas espalhados pelo país, que originam vinhos únicos em diferentes territórios;
  • O clima majoritariamente mediterrânico, que favorece o desenvolvimento e maturação da uva por conta dos invernos mais curtos, chuvas concentradas, e verões secos e ensolarados;  
  • A variedade de solos, que aportará às vinhas e aos frutos diferentes tipos de nutrientes.

Além disso, dois grandes fatores que influenciam as atividades vitivinícolas do Chile são o oceano Pacífico e a Cordilheira dos Andes. 

O oceano Pacífico contribui com correntes marítimas que resfriam os vinhedos próximos ao litoral. Já a cadeia de montanhas da Cordilheira dos Andes forma uma proteção natural para as vinhas, que além de manter o ar frio que desce das encostas, também dificulta a chegada de pragas, como a filoxera.

Inclusive, este fato também contribuiu para que a Carménère sobrevivesse no país enquanto a filoxera destruiu vinhedos europeus.

A união de todos esses motivos propiciam as condições perfeitas para o desenvolvimento da Carménère. O resultado são vinhos que agradam paladares mundo afora — e nós temos algumas dicas para você: 

  • A versão Carménère da linha best seller Expedicion Single Vineyard Selection foi elaborada na célebre região do Valle Central. Estamos falando de um vinho tinto muito versátil, que apresenta goles macios e aveludados, além de um frescor agradável em boca, e aromas de amoras, chocolate e tabaco.

  • Já a versão Carménère da famosa linha Aves Del Sur, que representa a elegância do pássaro Rara, foi produzida na denominação do Valle del Loncomilla. O resultado é um líquido que conquistou as adegas dos brasileiros por meio de goles sedosos e picantes, além de aromas de ameixa preta, amora e cassis.

  • Vinho orgânico produzido pela renomada vinícola De Martino, esta versão da linha De Martino é oriunda do Valle del Maipo. Espere degustar um Carménère que apresenta corpo médio, acidez equilibrada e taninos macios, e apresenta perfume intenso de amora preta, mirtilo, cereja e pimenta preta.

  • Considerada a melhor produtora de vinhos do Chile pela competição Berliner Wine Trophy no ano de 2020, a Viña Echeverría é responsável por este Echeverria Reserva Carménère. Depois de estagiar entre 4 e 5 meses em barricas de carvalho, o vinho se mostra macio, aveludado e equilibrado, com perfume intenso de framboesa, pimentão vermelho e pimenta preta.

  • Por fim, o premiado Anka Pargua 2015. Elaborado pelo renomado produtor Jean-Pascal Lacaze, ele é um tinto chileno aos moldes de Bordeaux. Unindo a Carménère às uvas Merlot, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Cabernet Franc, ele é um vinho robusto, com taninos marcantes, acidez equilibrada, e aromas de cereja, ameixa, hortelã, com nuances de especiarias.

Como harmonizar vinhos Carménère?

Chegamos em uma das melhores partes: a harmonização! E o vinho Carménère combina com o que? Confira algumas dicas de como combinar o seu vinho com diferentes tipos de comida.

Se a pedida da vez for pratos à base de carnes vermelhas, o ideal é optar por cortes bovinos pouco gordurosos, como filé mignon, por exemplo. Algumas sugestões de receitas são: ensopado de carne, porco assado à cubana, e cordeiro assado com hortelã.

Nós também temos uma dica de receita especial para você! Confira o nosso passo a passo e aprenda a preparar uma saborosa fraldinha no forno para harmonizar com o seu vinho Carménère.

Agora, no caso de carnes brancas, é ideal que elas sejam preparadas com temperos mais fortes ou molhos pesados, para que o vinho não “roube” o sabor da refeição.

Lembra que os vinhos Carménère costumam ter notas herbáceas? Saiba que rótulos com essas características combinam com pimentões recheados, bolinho de lentilha assado, feijão fradinho com linguiça, e chilli mexicano com nachos, por exemplo.

Além disso, pode apostar em comidas com temperos regados a pimenta-do-reino, orégano, cebolinha, cominho, coentro, tomilho, limão e alho.

No caso dos queijos, algumas opções para a harmonização são: Muçarela, Parmesão, Feta, Monterey Jack, e Cotija.

Por fim, é importante ter em mente que você sempre pode (e deve!) testar diversas harmonizações, com diversas expressões da uva. Desta forma, além de aumentar o seu repertório, vai descobrir qual estilo de vinho e prato mais agradam o seu paladar. 😉

Harmonização com vinho Carménère

Curiosidades sobre a uva e o vinho Carménère

Agora que você já sabe mais sobre a história da Carménère, suas características, e como harmonizar os vinhos produzidos por meio dessa uva, confira algumas curiosidades:

  • Estudos de DNA comprovaram que as castas Carménère, Cabernet Sauvignon e Merlot descendem da uva Cabernet Franc;
  • Na região vinícola de Ningxia, no centro-norte da China, a Carménère é conhecida como Cabernet Gernischt;
  • No Velho Mundo, a Carménère já foi conhecida como Grand Vidure;
  • Além do Chile (país que mais cultiva a uva) e da França (que a cultiva em menor quantidade), alguns outros países em que a Carménère está presente são: Argentina, Itália, Brasil, Estados Unidos, China, México e Macedônia do Norte;
  • A Carménère também foi encontrada na cidade de Matakana, na Nova Zelândia. Lá, a casta havia sido confundida com a Cabernet Franc;
  • Variedade que amadurece tardiamente em comparação com outras uvas, a Carménère precisa de muita luz solar e verões quentes para expressar por completo seu potencial;
  • A pirazina, composto orgânico presente em diversas variedades de plantas, é a responsável pelos aromas de pimentão nos vinhos Carménère, especialmente os chilenos; 
  • A pronúncia de “Carménère” é “car-men-ner”.
Vinha da uva Carménère

 Conclusão

Depois de descobrir todos esses detalhes sobre a Carménère, fica mais fácil entender o tamanho reconhecimento que a uva recebe, não é mesmo? Principalmente pelos vinhos chilenos que origina.

Aproveite para descobrir qual seu Carménère favorito e  abastecer a adega com os rótulos do nosso site!